domingo, 7 de diciembre de 2008

O irmão

Ela sempre o olhava com uma ponta de desejo. É o pai do seu namorado. Percebia nele, uma virilidade que faltava ao filho. A firmeza das palavras, o olhar compenetrado e até mesmo seus movimentos, que lhe pareciam pesados e ao mesmo tempo exatos, provocavam nela uma estranha curiosidade.
Aos poucos ela percebeu que era correspondida pelo sogro. Primeiramente os olhares, se procuravam e sempre que se cruzavam, permaneciam por alguns longos segundos a mirar. Os abraços começaram a ficar mais demorados, apertados e, quando acabavam, a mão direita dele escorregava levemente pelo braço esquerdo dela. Depois vieram carinhos em seus cabelos, nas costas, sorrisos, olhares e mais olhares.
Um dia, sentada no sofá, entre o pai e o filho, mesmo abraçada a este, não parava de calcular a distância entre o próprio corpo e o de seu sogro. Neste dia, enquanto voltava para casa, se deu conta de que não mais havia nela qualquer interesse pelo próprio namorado, mas sim por aquele homem trinta anos mais velho que ela.
A partir de então, sempre se antecipava ao horário marcado com o filho, para passar alguns minutos, sozinha com o pai. Ela sentia muito medo, embora estivesse decidida a se entregar com muito mais corpo do que alma a esse desejo.
Nos primeiros encontros, mal conseguia olhar diretamente para o sogro, que, cuidadosamente, a acalmava a cada dia. Ele não tinha pressa, parecia acreditar que o adiamento de um prazer, era uma maneira de potencializá-lo. Ela se sentia completamente seduzida por esse seu jeito de lidar, paciente, carinhoso e acima de tudo, seguro. Sentia uma tranquilidade que lhe remetia a seu próprio pai.
Após o terceiro encontro o corpo dela apenas se deixava levar pelo sogro. Seu namoro agora, mais do que nunca, não passava de um pretexto. Passaram a se ver mesmo nos dias em que ela não encontrava o namorado.
Meses se passam assim, até que o filho chegou em casa e, em um tom sério e receoso, chamou o pai para conversar. Jovem e inexperiente, precisou engolir as lágrimas para dizer que a namorada estava grávida. Concluiu afirmando que queria se casar e pediu apoio financeiro.
O pai não negou, assim como os pais dela. Casaram-se o mais rápido, nem foi preciso exagerar no vestido para esconder a barriga. Ela se mostrou uma esposa dedicada, após a cerimônia não desejou mais nenhum homem que não o seu marido. Ele está totalmente realizado, em oito meses viu seu irmão nascer, irmão esse que, para sempre chamará de filho.

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